sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Palavras ao vento...

Um dos nomes importantes para a história e popularização da infografia certamente é o do britânico Nigel Holmes. Responsável pelo material gráfico publicado na revista Time nas décadas de 1970 e 1980, Holmes também publicou vários livros destinados à compreensão e uso dos recursos gráfico-visuais na imprensa.

Mas um dos livros mais curiosos dele é o pequeno, curioso e divertido Wordless Diagrams, cujo propósito fica bem claro já no título: mostrar que é possível fazer diagramas em geral sem recorrer ao auxílio dos textos verbais. Ao todo, são 90 diagramas baseados apenas em desenhos, números, flechas e fios. Isso não significa a completa ausência de textos verbais: os diagramas aparecem denominados (contraditoriamente, na minha opinião) no começo do livro. Mas a brincadeira seria melhor se essas denominações aparecessem ao final da obra.

A função primordial dos diagramas é visualizar as várias etapas de um processo qualquer. Ou seja: aqui o leitor não irá encontrar mapas ou gráficos. Por outro lado, os exemplos feitos por Nigel Holmes são úteis não apenas para ilustradores, designers e produtores de infografias, mas também para quadrinistas, uma vez que a base dos diagramas é justamente a transição entre uma cena e outra (uso aqui o termo “transição” na mesma acepção adotada por Scott McCloud em seu livro Desvendando os Quadrinhos).

A maioria dos diagramas de Holmes é compreensível sem muito esforço: como enrolar um cigarro, como desenhar um gato ou como dobrar uma camiseta são situações cotidianas, facilmente interpretáveis sem auxílio de texto verbal. Mas há, por outro lado, ações desenhadas e que, à primeira vista, parecem não fazer muito sentido: o que faz um homem com um capacete na cabeça, que se senta ao lado de um tigre, começa a ler um livro, faz o felino bocejar e enfia na boca dele (do tigre) o capacete com uma bola? Ou o que faz um homem indiano que balança a cabeça para a esquerda e para a direita? Por que esses diagramas mostram isso? O que eles pretendem, afinal?

Esses dois exemplos acabam demonstrando a hipótese oposta: a de que certos diagramas necessitam de textos verbais para melhor serem compreendidos. Isso ocorre quando estamos diante de uma situação completamente nova ou cujo significado da ação não compreendemos. Por outro lado, a interpretação desses diagramas fica simples quando sabemos de antemão o que eles pretendem mostrar. Ou seja: respectivamente, como praticar colocar a própria cabeça na boca de um tigre e como dizer “sim” na Índia.

Paradoxalmente, Wordless Diagrams acaba demonstrando que é até possível fazer diagramas sem palavras nele mesmo. Por outro lado, fica claro que qualquer diagrama necessita de, ao menos, um texto verbal: o seu próprio título. Em suma: o livro pode ser usado como brincadeira entre amigos, como passatempo ou como central de ideias.

Wordless Diagrams

Nigel Holmes

Bloomsbury, New York, 2005, 160 páginas

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