sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Começam inscrições de 2as. Jornadas Internacionais de Quadrinhos

As inscrições dos resumos para as 2as. Jornadas Internacionais de Histórias em Quadrinhos começam hoje e se estendem até o dia 15 de março.

Os resumos devem ter entre 200 e 300 palavras, apresentar três palavras-chave e se enquadrar em um dos 15 eixos temáticos do evento, que discutem a relação dos quadrinhos com os seguintes temas: Arte, Cinema, Cultura, Educação, Gêneros Textuais, História, Humor, Identidade, Mídias Virtuais, Jornalismo, Linguagem, Literatura, Mercado, Relatos Biográficos e Sociedade.

O evento será realizado entre os dias 20 e 23 de agosto de 2013, na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP). Mais detalhes no site das Jornadas.

Tipografia “infográfica”

Parece uma fonte tipográfica mas não é. A FF Chartwell se apresenta como uma ferramenta “disfarçada de fonte” para ajudar a criar gráficos facilmente. Ele usa o OpenType para interpretar e visualizar os dados que são editáveis dentro de uma única caixa de texto.

A ideia é do designer Travis Kochel, também professor-adjunto na Portland State University. Após criar a fonte Otari, em 2010, ele criou a FF Chartwell. As licenças para a fonte podem ser adquiridas a partir do site de Travis Kochel, que conta com quase 400 fontes diferentes.

Os quadrinhos como uma forma visual de discurso

É muito bom ler livros sobre quadrinhos. Se eles têm algo a ensinar sobre a Nona Arte, melhor ainda. E se, além disso tudo, eles ensinam e mostram aquilo sobre o que estão falando, então o livro se torna obrigatório.

É o que ocorre com o livro El Discurso del Comic, de Luis Gasca e Roman Gubern. Os autores espanhóis tratam de discutir com bastante propriedade um aspecto central dos quadrinhos: o fato de que eles (assim como o cinema) também mostram algo, e não somente narram. Aqui, os autores partem das definições do francês Gérard Genette sobre as diferenças entre narrar e mostrar.

A partir dessa premissa, os autores fazem um levantamento de cerca de 2 mil quadros (!) ao longo de mais de 700 (!) páginas. Esse levantamento ajuda a ilustrar, para o leitor, as diferentes convenções semióticas envolvidas no ato de criar e desenhar uma história em quadrinhos.

Um exemplo bastante simples disso: toda HQ (assim como as imagens cinematográficas) necessita de um tipo de enquadramento. O enquadramento nada mais é (nos termos aqui propostos, ressalte-se) do que uma forma de mostrar, e não de narrar. Primeiros planos, planos gerais, detalhes, closes e outras formas de enquadramento pertencem a um universo visual.

A leitura do livro vai deixando cada vez mais claro que os quadrinhos não podem ser analisados (apenas) à luz das teorias literárias que digam respeito unicamente ao texto verbal. Os estereótipos sociais (bêbado, anjo, herói, vilão) dependem das características visuais que facilitem a identificação de cada personagem na narrativa quadrinística. O mesmo vale para os estereótipos visuais (jogar água, estar ferido, estar aterrorizado).

Assim, temos uma obra que fala sobre gestos (mãos, pés, rostos), situações arquetípicas (perigo, queda, fome, sede, transpiração), símbolos cinéticos (quedas, golpes, enjoo, tédio), formas de balões (falas, pensamentos, alucinações), letreiramentos... enfim, tudo aquilo que, seja ele um desenhista ou um roteirista de quadrinhos, deve conhecer. Ou seja: temos aqui uma verdadeira enciclopédia da gramática visual dos quadrinhos.

Sem abrir mão de um certo referencial linguístico, El Discurso del Comic se torna também uma leitura obrigatória para quem pretende conhecer um pouco melhor o universo visual dos quadrinhos e as suas convenções.

Luis Gasca e Roman Gubern

El Discurso del Comic

Madri, Cátedra, 2001, 714 páginas

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Jornadas de Quadrinhos divulgam data de início de inscrições

As 2as Jornadas Internacionais de Histórias em Quadrinhos já têm data de início de inscrições: dia 25 de janeiro. O congresso será realizado entre 20 e 23 de agosto deste ano na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP).

Mais detalhes sobre a inscrição, bem como a primeira circular, o calendário completo e os valores das taxas, encontram-se no site do encontro: www.eca.usp.br/jornadas. Quem quiser ter acesso aos anais da I Jornada, realizada em 2011 também na ECA-USP, pode ir a www2.eca.usp.br/jornadas/CadernoDeResumos-1asJornadas.pdf.

As Jornadas Internacionais de Histórias em Quadrinhos abrigam grupos de trabalho (GTs) que discutem a relação dos quadrinhos com as seguintes áreas: Arte, Cinema, Cultura, Educação, Gêneros Textuais, História, Humor, Identidade, Mídias Virtuais, Jornalismo, Linguagem, Literatura, Mercado, Relatos Autobiográficos e Sociedade. A Comissão Organizadora do evento é formada por: Waldomiro Vergueiro (Universidade de São Paulo); Paulo Ramos (Universidade Federal de São Paulo) e Nobu Chinen (Faculdades Oswaldo Cruz/USP).

Dicionário das ideias visualizáveis

Uma das perguntas mais comuns entre quem quer fazer infografias é: por onde começar, em termos de leitura? Qual livro deveria ser obrigatório ter numa biblioteca sobre o assunto? Em minha opinião, não dá para avançar muito no assunto se você não conhecer as várias possibilidades de visualização gráfica, para as mais diversas situações. Afinal, uma infografia não se resume apenas ao uso de gráficos estatísticos ou de mapas acompanhados de ilustrações.

Por esse ângulo, o livro Information Graphics – a comprehensive illustrated reference, de Robert L. Harris, é um verdadeiro “amigão”. Isso porque ele é uma espécie de dicionário (ou enciclopédia) de gráficos informativos. A obra é dividida em centenas de verbetes explicativos, todos ilustrados especificamente para a mesma, apresentados de modo bem didático.

Antes, é preciso considerar ao leitor de língua portuguesa que as expressões “information graphics” e “infographics”, na cultura anglo-saxã, vários autores (como Peter Sullivan, Erik Meyer, James Stovall, Nigel Holmes, Tim Harrower, Jennifer George-Palilonis, Edward Tufte) referem-se genericamente a todo e qualquer tipo de texto gráfico-visual (mapas, gráficos, tabelas, diagramas etc.). Fazemos essa advertência pelo fato de que alguns autores de língua espanhola tendem a delimitar o conceito de infografia aos diagramas explicativos jornalísticos (como o fazem José Manuel de Pablos, Gonzalo Peltzer, José Luis Valero Sancho e Carlos Abreu Sojo, por exemplo. Alberto Cairo e Elio Leturia são algumas das exceções). É tendo em vista essa “definição anglo-saxã” que o livro de Robert L. Harris deve ser compreendido.

Com a leitura de Information Graphics, fica claro que a linguagem gráfico-visual é composta de vários gêneros e subgêneros distintos. Isso mostra a importância, para o profissional da área, de se conhecer as diferentes possibilidades de visualização de dados (espaciais, temporais, numéricos etc.). Além disso, Harris não se detém, em nenhum momento, em citar softwares específicos para a geração desses gráficos; ele deixa claro que o aspecto central de sua obra é o conhecimento dos diferentes tipos de gráficos e sua finalidade para cada situação.

Mas ele prioriza outro aspecto também importante: a capacidade de interpretação de um gráfico. Outra de suas preocupações é que os gráficos informativos comuniquem bem, de modo a evitar ambiguidades de sentido e a facilitar a compreensão por parte do leitor. Assim, os exemplos que constam na obra são extremamente simples (mas não simplórios): deixam claro para que servem e como podem ser interpretados.

Isso não significa que todos os exemplos presentes na obra devam ser usados pelo profissional de imprensa. Obviamente, isso depende do perfil tanto de cada publicação quanto de seu leitor; assim, um jornal popular dificilmente usará os mesmos tipos de gráficos de uma publicação especializada em economia ou ciência. Indiretamente, o que queremos dizer é que essa obra solicita um letramento mínimo em Cartografia e, principalmente, em Estatística Descritiva.

Além dos gráficos, a obra também fala das partes que compõem os gráficos informativos (abscissas, eixos, elementos pictóricos, colunas, cores etc.). Fica claro que a obra não ensina a fazer infografias jornalísticas (num sentido restrito), mas mostra quais são os modos e as “ferramentas” possíveis para visualizar dados.

Enfim, Information Graphics é, ao mesmo tempo, excelente tanto para tirar dúvidas sobre a área quanto para auxiliar na visualização de dados de diferentes naturezas.

Robert L. Harris

Information Graphics – a comprehensive illustrated reference

Oxford, Oxford University Press, 1999, 448 páginas

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Brasil: 4º. lugar em inscritos para curso online massivo de infografia

O Knight Center divulgou essa semana que seu segundo curso online massivo (MOOC) de Introdução à Infografia e Visualização de Dados encerrou as inscrições quando estas chegaram a 5 mil. As aulas têm início no dia 12 de janeiro, com o professor Alberto Cairo, da Universidade de Miami. O Brasil, ao lado do Canadá, foi o quarto país com maio número de participantes (213), atrás apenas dos EUA (2.033), Reino Unido (311) e Espanha (290).

Interessados devem ficar atentos pois, além do curso de Introdução à Infografia e Visualização de Dados, o Knight Center já ofereceu cursos de Jornalismo Interativo: Animação e Visualização de Dados e de Elaboração de Mapas Interativos. E, obviamente, se e quando esses cursos forem ofertados novamente, a gente divulga aqui.

Como se inventa uma história?

Uma das coisas que ouço com frequência é que uma pessoa (geralmente um filho ou filha) deve fazer quadrinhos porque “ela sabe desenhar muito bem”. Costumo responder que, até certo ponto sim, mas que o fundamental mesmo é que a pessoa saiba contar uma história; do contrário, ela poderá ser uma ótima ilustradora ou desenhista, mas dificilmente será uma “quadrinista completa” (ou seja, aquela pessoa que controla todo o processo de feitura de uma história em quadrinhos).

Além disso, é sempre bom lembrar: a expressão em língua portuguesa (seja ela brasileira, “história em quadrinhos”, ou portuguesa, “história aos quadradinhos”) é mais completa do que seus “similares” de outras línguas (comics, fumetti, bande dessinée), pois deixa clara a dupla necessidade de haver uma história que precisa ser encerrada em quadrinhos visuais.

Tudo isso nos leva à seguinte pergunta: como nasce uma história? Como fazer para desenvolvê-la? Há métodos para isso? Boa parte das respostas a essas perguntas está num livro de 1973 chamado Gramática da Fantasia, escrito pelo jornalista e escritor italiano Gianni Rodari (1920-1980). Seu subtítulo (eliminado da edição brasileira) não deixa dúvidas: “introdução à arte de inventar histórias”.

Apenas na aparência o livro de Rodari é simples. Em clima abertamente autoral e, por vezes, passional (como os italianos, em geral), e longe do academicismo contemporâneo, Rodari vai elencando em pequenos capítulos (2 a 3 páginas, em média) várias técnicas de invenção de uma história.

Evitar o academicismo, aqui, não significa pobreza de ideias. Rodari cita, aqui e ali, Freud, Propp ou Vygotsky como auxiliares de sua linha de desenvolvimento de raciocínio ao longo do livro, mas sem tornar a leitura chata ou enfadonha. E, ainda que na segunda metade da obra, o seu caráter pedagógico vá ficando mais claro e mais presente, isso não diminui o prazer da leitura; apenas muda a sua angulação. Somente ao final, no capítulo “Fichas”, é que temos uma noção melhor dos autores por ele lidos, citados ou aludidos.

Durante a leitura de Gramática da Fantasia, vamos observando certas técnicas bastante úteis, como a fusão de fábulas, o uso de prefixos que “desestabilizam” os objetos, a criação de “binômios fantásticos” ou os diferentes modos de criar um mundo fantástico a partir das letras de uma palavra. Ficará claro, para o leitor mais atento, que uma considerável gama de produtos culturais contemporâneos (entre quadrinhos, livros e filmes) parece ter algum tipo de “dívida criativa” com essa obra, ainda que possa ser também mera coincidência.

Rodari dedica algumas poucas linhas e um capítulo aos quadrinhos. Neste capítulo, sublinha as diferenças entre as formas audiovisuais (TV, cinema) e os quadrinhos: as primeiras tendem a mostrar o desenvolvimento de uma ação completa, enquanto os quadrinhos, por conta da sarjeta, são obrigados a mostrar apenas partes da ação, deixando à imaginação do leitor “completar” o restante da ação. Obviamente aqui não há nada de novo, que já não tinha sido dito por outros autores da área, mas gosto da seguinte frase do autor: “se o cinema é uma escrita, o quadrinho é uma estenografia, cujo texto precisa ser reconstruído” (p. 140).

Em suma: Gramática da Fantasia, apesar de direcionado a pedagogos e professores, é também um utilíssimo manual de como aprender a criar e desenvolver histórias. E sua leitura pode ser muito bem complementada com outro livro: Fantasia – invenção, criatividade e imaginação na comunicação visual, de Bruno Munari (edição portuguesa), que discorre sobre a fantasia no universo visual (desenhos, pinturas, tipografia etc.). Mas esse livro é assunto para uma outra postagem...

Gianni Rodari

Gramática da Fantasia

São Paulo, Summus, 1982, 188 páginas